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segunda-feira, 9 de abril de 2012

CATADORA E GARI ENTRAM NA FACULDADE E INSPIRAM OUTROS PROFISSIONAIS

Laissa Sobral e Walkiria Benites nunca se viram, mas pertencem ao mesmo time de guerreiras determinadas. Ganhavam a vida recolhendo lixo e agora acabam de realizar um grande sonho.

 

Laissa Sobral e Walkiria Benites nunca se viram, mas pertencem ao mesmo time de guerreiras determinadas. Ganhavam a vida recolhendo lixo e agora acabam de realizar um grande sonho: entrar na universidade.

 

Laissa e Walkiria moram em lugares diferentes, têm idades diferentes... Nem se conhecem. Uma, de 19 anos, estuda gestão ambiental. A outra, com 36, acabou de passar em ciências biológicas. Mas, até o ano passado, tinham uma vida bem diferente.

 

Laissa passava oito horas por dia separando material, numa cooperativa de reciclagem de lixo em São Paulo. O mesmo trabalho que a mãe e a avó já faziam.

 

“Toda a minha geração, ninguém conseguiu terminar o estudo, eu sou semi-analfabeta, aprendi a ler com a vida”, diz a mãe de Laissa.

 

A família de Walkiria também não tem ninguém com curso superior. Até o ano passado, ela trabalhava como gari em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Das 7h da manhã às 15h, seis dias por semana, ela tinha que limpar 40 quadras.

 

“O sol acaba com a gente. Por isso que eu emagreci sete quilos”, conta Walkiria.

 

Era essa vida que as duas queriam deixar pra trás. Tinham o mesmo sonho: entrar na universidade.

 

A Laissa aproveitava cada folguinha: 15 minutinhos de intervalo, ou mesmo um tempinho livre na hora do almoço, isso já era suficiente para ela revisar a matéria quando ela estava cursando o supletivo, antes de entrar na faculdade. Na cooperativa, o pessoal recolhe da rua, muitos livros, revistas, jornais. Quando Laissa encontrava tudo isso, ela usava para estudar.

 

Já Walkiria não via um livro há muito tempo. Ela ficou 12 anos longe dos estudos, sem pisar numa sala de aula, mas ela não desanimou. Quando decidiu que ia fazer a faculdade, se inscreveu num cursinho, pra revisar o conteúdo. E aqui ela foi uma aluna dedicada.

 

“Nós temos uma norma do instituto que o aluno tem que ter 90% de presença. EM 2011 Walkiria teve 100% de presença”, conta Janilce Muniz, coordenadora do cursinho de Walkiria.

 

“Enquanto todos os meus amigos descansavam, eu estava na sala de aula estudando”, diz Walkiria.

 

Valeu a pena. O curso de ciências biológicas tinha 60 vagas, 168 candidatos, e a Walkiria ficou em 26º lugar. Ela deixou Campo Grande e foi estudar em Dourados, em uma universidade federal. Largou a vida de gari, mas não está fácil se manter na nova cidade: ela agora trabalha como faxineira.

 

Laissa entrou numa faculdade particular, e logo conseguiu passar numa prova de transferência para a USP, a maior universidade pública do país.

 

“É um mundo totalmente diferente do meu. A quantidade de negros que tem na universidade, eu ainda sou uma”, diz Laissa.

 

Um mês depois de deixar o emprego de gari, Walkiria voltou para rever os amigos. Até vestiu o velho uniforme. Mas os colegas perceberam que alguma coisa mudou. Lembra dos sete quilos que ela tinha perdido? A vida nova de Walkiria animou a turma da limpeza.

 

“A maioria do pessoal que viu ela, está todo mundo querendo voltar a estudar”, diz um amigo.

 

E não é que aconteceu a mesma coisa na cooperativa?

 

“Meu filho quer seguir o caminho dela. Ele se inspira mais nela para poder fazer uma faculdade dele também e ser alguém na vida”, diz a mãe de Laissa.

 

“Eu quero transformar o meu conhecimento em melhorias para a categoria de catadores. Somos muito, muito, muito inteligentes, que não é porque estamos no meio do lixo que somos lixo”, avisa Laissa.

 

Elas sabem: não vai ser fácil. Como já disse um dos professores da Laissa.

 

“Ela vai ter que matar um leão por dia, vai ter que se superar. Mas ela chegou e que mais Laissas venham”, pede o professor André Felipe Simões.

 

E que mais Walkirias também

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