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segunda-feira, 9 de abril de 2012

CASCA DA BANANA SAI DO LIXO PARA LIMPAR RIOS, TRAZENDO BENEFÍCIOS

Para conseguir resultados, cortava as cascas e as deixava em temperatura ambiente

Houve uma época em que todas as cascas de banana da casa da química Milena Boniolo eram guardadas. Nas mãos da então mestranda, a matéria-prima era transformada em uma arma para despoluir águas contaminadas por metais pesados, como chumbo.

 

A ideia de produzir algo para tratar efluentes era antiga. A pesquisadora já havia trabalhado com fibras de coco verde e nanotecnologia. O primeiro, diz ela, muitas vezes, mofava no processo. O segundo era caro demais para ser aplicado em larga escala.

 

Que outro material pode ser reciclado e é barato e simples de encontrar em todo o país?, questionou. A resposta estava no lixo de sua casa --o irmão, jogador de futebol, consumia bananas frequentemente. No país, a produção anual é de 6,9 milhões de toneladas por ano, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).

 

Levou a proposta de estudo para o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e bateu o pé para que o projeto fosse aceito. "Não era o formato de pesquisa que a gente tinha lá, mas fiz o teste várias vezes para mostrar que era possível."

 

Para conseguir resultados, cortava as cascas e as deixava em temperatura ambiente --de aproximadamente 25º C-- por cerca de uma semana. Depois, triturava e peneirava o material.

 

O pó era misturado a uma solução com urânio por 40 minutos e o indice de remoção do metal chegava a, no mínimo, 65%. Bastavam 5 mg da farofa para despoluir 100 ml de água, segundo ela. Boniolo, que usou banana nanica "porque tinha muita em casa", diz que os resultados são semelhantes com qualquer variedade da fruta.

 

O princípio da atração dos materiais, explica, é simples. O processado da casca da fruta tem carga positiva e os metais pesados, negativa. Quando colocados juntos, eles se unem.

 

REUTILIZÁVEL

 

Mas podem se separar. Depois de processados, os metais --que chegam a causar problemas neurológicos e câncer-- podem ser reutilizados, voltando para a cadeia produtiva. Eles são usados em indústrias como a metalúrgica.

 

A pesquisa de Boniolo despertou o interesse de instituições internacionais. Foi convidada a palestrar nas universidades Oxford, na Inglaterra, e da Califórnia, em Irvine, nos EUA. Empresas também a contataram.

 

"Quando as indústrias procuram, já estão com uma área contaminada e querem o trabalho para ontem", conta ela. Mas faltava a fórmula para adequar os resultados de experimentos feitos "em uma bancada de laboratório", em que são usados mililítros, a grandes volumes.

 

A solução deve vir do doutorado. Boniolo está no primeiro ano na Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho). "Sustentabilidade é cooperação, tem que haver interdependência entre academia, governo, empresas."

 

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