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terça-feira, 20 de março de 2012

O BOOM DAS DÍVIDAS FAZ SENTIDO - CONTRARIANDO O CENÁRIO DO FIM DOS ANOS 1990, INVESTIDORES ESTRANGEIROS ESTÃO CONTENTES DE APOSTAR EM ECONOMIAS EMERGENTES

Há dez anos o Brasil ainda carregava a mácula da crise da dívida latino-americana da década de 1980 e da moratória argentina de 2001. Títulos do governo brasileiro eram classificados como lixo e sua dívida rendia mais de 10%. Mas o Brasil não seguiu o caminho argentino, e seus títulos foram promovidos a um nível de “investimento” em 2008.

 

A dívida do seu setor empresarial também se tornou muito mais atraente para investidores internacionais. A Petrobras, recebe uma classificação BBB pela Standard & Poor e pela Fitch, duas agências de rating. Mas a sua oferta de US$ 7 bilhões em títulos atraiu propostas avaliadas em US$ 25 bilhões no mês passado.

 

A Petrobras não está sozinha. Títulos corporativos oriundos de mercados emergentes totalizaram US$ 464 bilhões em 2011, de acordo com a Dealogic, um provedor de dados, em comparação com apenas US$ 177 bilhões em 2007. Empresas de mercados emergentes levantaram mais de US$ 98 bilhões dólares em 2012, um montante 10% maior que durante o mesmo período em 2011. Grandes emissores de títulos, de acordo com Barclays Capital, incluem a Reliance Industries, da Índia; a Hutchison Whampoa, de Hong Kong; e a Singapore Telecom.

 

O entusiasmo dos investidores por essa dívida não é surpresa. Os rendimentos no mundo desenvolvido estão muito baixos, pelo menos fora da periferia da zona do euro, onde o medo das moratórias ainda é alto. Os investidores estão felizes em espalhar sua rede de forma mais ampla em busca de uma renda extra. Aproveitar esta oportunidade faz todo sentido para empresas de mercados emergentes. Elas podem até pegar empréstimos com vencimentos longos, de até 30 anos, o que teria sido inimaginável há uma década.

Na prática, mercados emergentes emissores estão se beneficiando das políticas de taxas de juros baixas nos bancos centrais do mundo desenvolvido. Isso não é uma grande notícia para as empresas pequenas e médias do mundo rico que dizem que estão lutando para obter empréstimos. É fácil criar dinheiro novo, mas você não terá certeza de onde ele vai parar.

 

Uma busca semelhante por rendimentos ocorreu em meados da década passada, quando os baixos rendimentos dos títulos públicos, levaram os investidores a se acumular em produtos de dívida complexos ligados aos imóveis norte-americanos. Essa bolha estourou com resultados desastrosos. Poderiam os investidores cometer um erro semelhante desta vez?

 

O entusiasmo atual com a dívida dos mercados emergentes se parece menos com uma bolha. Afinal, o registro econômico de muitos países em desenvolvimento tem melhorado ao longo dos últimos dez anos. De fato, a relação entre a dívida e o PIB da média dos mercados emergentes é menor do que a do país médio no mundo desenvolvido.

 

Também faz sentido que os investidores na Europa e nos Estados Unidos diversifiquem suas gama de títulos fora do mundo desenvolvido. Isso não é uma ideia nova. Como mostra The First Global Emerging Markets Investor (“O Primeiro Investidor Global de Mercados Emergentes”), um estudo acadêmico realizado por David Chambers, da Judge Business School, e Rui Esteves, da Universidade de Oxford; a Foreign & Colonial, o primeiro grupo de investimento britânico, foi criado em 1868 para investir em títulos estrangeiros, incluindo os emitidos no Egito, na América Latina e na Turquia. Em 1913, o fundo teve uma exposição de 93% para o que era, então, o equivalente aos mercados emergentes.

 

Até que o comércio global fosse interrompido pela Primeira Guerra Mundial, esta foi uma estratégia altamente rentável: valor do ativo líquido do fundo aumentou em 5,2% ao ano, numa era de inflação praticamente zero. Significou também que o capital global estava fluindo da maneira certa, para países que precisavam financiar o desenvolvimento, e ofereceram as oportunidades de crescimento mais atraentes.

 

Desde a crise asiática do fim dos anos 1990, o capital global foi fluindo para o lado errado – dos mercados emergentes para o mundo desenvolvido, principalmente para a compra de seus títulos governamentais de baixo rendimento. Em um cenário ideal, o mundo rico, de envelhecimento acelerado, estaria funcionando com superávits nas contas-corrente e acumulando créditos sobre os países de crescimento mais rápido crescimento, promovendo uma proteção para sua condição.

 

Esta seria uma boa notícia para os que economizam no mundo ocidental, e que correm o risco de serem levados pelas novas regulamentações financeiras a possuir dívidas de seu próprio governo sob taxas de juro real (ou seja pós-inflação) negativas. Melhor, certamente, seria possuir a dívida da Petrobras do que ter a duvidosa honra de emprestar dinheiro ao governo britânico em um baixo rendimento de 100 anos, uma ideia que está sendo testada pelas autoridades. Em 1932, um governo de coalizão dominado pelos conservadores britânicos tirou proveito de um mercado de títulos flutuante para trocar um empréstimo de guerra que rendia 5%, por um que rendia 3,5%. Dentro de 20 anos, os investidores de títulos britânicos haviam perdido 60% do seu capital em termos reais.

 

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